Diário de Bordo #7
-Não gosto de despedidas!
Disse Oscar Castilho, recolhendo as suas lágrimas, estrategicamente presas nos seus óculos de natação do shrek, que foram deliberadamente apertados e firmemente esbugalhados junto à sua face para que nenhuma lágrima fosse perdida pela alcatifa comichosa… David, com um sorriso de sobre canto olha para Oscar … sorriso sábio, dado apenas por aqueles que já tiveram o privilégio de ver quase todas as praias, montanhas, contos e cantigas! Sorriso de quem já viveu uma duas, talvez três vidas bem vividas! Sorriso de quem já há muito que se deixa sorrir com pouco! Sorriso de um louco que quis e conquistou, que foi feliz, amou e dobrou para o que vinha a seguir. Ele olha para o seu neto Oscar, com um olho semicerrado e o outro já quase a dormir… e diz:
-Por que guardas essas tuas lágrimas, meu querido Oscar?
O Oscar semi-encharcado responde:
-Estas tuas histórias, avô… Elas fazem-me rir, elas fazem-me chorar! Tenho medo de as esquecer ou de as perder como se perdem as moedas de 5 cêntimos nos fundos dos bolsos das calças bombazine fora de moda! Ou de como se perdem no fundo das gavetas mal consertadas as bugigangas fora de preço, compradas no final das viagens! Eu quero lembrar-me para sempre de cada lágrima que derramei, cada sentimento que senti, aqui dentro dos meus óculos de natação!
-Ai como eu te percebo, meu querido Neto! Não é nada fácil crescer e esquecer do que as coisas um dia foram. De todas as pessoas que conheceste e versões de ti no qual já não mais encontras ao te olhar ao espelho. Mas digo-te meu querido neto! Tu nunca te esqueces por completo das aventuras que viveste! Cada momento tem os seus entretantos. Não são todos os que te ficam na memória, mas, entretanto, arranjas outros! Se não te libertares do embaciado, nunca vais poder ver o que se avizinha à tua frente. Mas vai, antes de te debruçares sobre as tuas lágrimas, deixa-me acabar de ler o meu diário juvenil sobre esta minha aventura…
E assim, sem mais nem menos, chegamos ao fim desta grande aventura. E ao contrário da minha conturbada relação com douradinhos, desta vez decidimos deixar o melhor para o final!
Na primeira semana, eu e o João fomos a ver uma peça no teatro de Zaragoza. Ao chegar ao recinto, apercebi-me logo que não tinha vindo nada preparado para aquilo. Era um sítio lindíssimo, com um glamour e com um nível de classe inconcebível ao mero traquinas que sou! Olhava em volta, e só via senhoras de vestido e homens de gravata com os seus olhares eloquentes. Mas que grande Lata! Eu que não sabia, estava lá de skate, todo suado e com os dedos ainda gordurosos do frango frito que comi sem bata! Subimos então para o último andar, onde João tinha encontrado os melhores bilhetes e ao melhor preço! E foi aqui que me deparei com algo que não estava à espera. Estávamos juntos dos pobres! Gente simples e humilde! Nada de roupas extravagantes nem olhares presunçosos. Estava em casa! É bom saber que a arte continua a ser para todos! Em relação ao espetáculo, sem entrar em muitos detalhes, tenho apenas a dizer que adorei e que excedeu as minhas expectativas por completo. Foi mesmo incrível de uma ponta à outra, inspirou-me imenso! Foi mesmo bonito de ver o meu amigo João no seu habitat natural! Depois desta primeira miniaventura, partimos em direção a uma maior… Fomos a MADRID!
No primeiro dia, reencontrámo-nos com o nosso amigo Sérgio e o irmão gémeo, pois eles vivem lá. Eles levaram-nos a conhecer a cidade, a sua história e os seus sítios mais icónicos. Foi muito bonito voltarmos a estar com o Sérgio, não pensei mesmo que o voltaríamos a ver! Ao final do dia, fomos ao aeroporto buscar a minha amiga Manuela, que tinha vindo de Portugal só para me visitar em Madrid! Que bonito. Não é para todos, eu sei! No dia seguinte, visitámos o famoso museu do Prado, fomos a um jardim botânico e ao parque El-retiro, um dos parques mais bonitos onde já estive! No final, acabámos o dia ao acaso num concerto brutal, onde eu dancei como se não houvesse amanhã! Não há ninguém aqui a rockar como eu! Neste dia, também me reuni brevemente com a Marta, que mora também em Madrid! Fiquei completamente deslumbrado! Voltar a ver esta pessoa que algures no tempo foi-me tão importante, foi mesmo algo de me deixou todo apanhado. Com o passar do tempo, fui-me esquecendo do que tornou aquelas primeiras semanas tão especiais! Foi bom recordar…. Esplêndido, absolutamente esplêndido! No terceiro dia fomos a uma loja brutal de cultura POP! Enquanto o João se ocupava com a sua secção matinal de visualização de reels no Instagram, eu e a Manu aproveitámos e ficámos à conversa com o dono da loja, que era uma autêntica alma juvenil! Ficámos mesmo amigos dele e, como prenda pela nossa amizade, ele ofereceu-nos um monte de coisas de graça para levarmos! Adoro estas pérolas de pessoa que encontro por todo o globo. Isto sim, são os melhores presentes! Mais tarde, nesse dia, fomos ao oceanário e depois, por uma última vez, reencontrámo-nos com o Sérgio para fazermos uma despedida digna. Fomos então fazer das nossas traquinices de juvenis para os locais secretos da cidade, conhecidos apenas pelos que lá residem! Eventualmente tivemos de dizer adeus! Foi muito difícil vê-lo partir, não gosto mesmo nada de despedidas! Mas pronto, o semáforo fica verde, a vida segue e o autocarro passa! O importante é ter cuidado na passadeira! Mas pronto, por fim eu estava prestes a fazer anos! Para celebrarmos a virada do dia e o meu aniversário, fomos encontrar-nos mais uma vez com a Marta que tinha trazido a sua amiga Carmen. Estávamos a andar pela rua, quando a 5 minutos da meia-noite o João diz que tinha de ir à casa de banho de um café que havia ali ao lado. Ele então foi-se… O tempo ia passando e nenhum sinal dele! Até que… Bate os sinos e é meia-noite. E ainda assim, 0 sinal de João! Eu estava completamente desolado. Tinha sido abandonado pelo meu amigo no meu aniversário. Até que, por entre as lágrimas, e quando menos estava à espera, aparece o João, com um bolo cheio de foguetes! Foi um momento mesmo mágico, não sei como é que ele conseguiu fazer tal artimanha, mas significou mesmo muito para mim! É nestes momentos que um gajo para e pensa o quão abençoado ele é! Obrigado, João, pela surpresa, fizeste-me o rapazito mais feliz do mundo! Continuámos a noite toda a curtir. Foi muitoooo divertido, estava mesmo feliz, eu até recebi uma cerveja de graça de uma senhora aleatória que descobriu que fazia 18! Finalmente, já não só sou LEGAU como sou também LEGAL! Finalmente já tenho idade para jogar monopólio, versão batoteiros. No dia seguinte, tivemos um dia mais tranquilo… ficámo-nos por miradouros e boas vistas. Mas ya, adorei a viagem a Madrid! Admito que não é a minha cidade favorita. É uma cidade demasiado comercial e tem demasiados mascotes tourist traps a tentar roubar-te dinheiro por cada rua em que passas. Mas o que se passou lá foi muito bonito, vai ficar para sempre guardado numa das gavetinhas da minha memória! Voltámos então para Zaragoza, ao som de muito choro, promessas não cumpridas e de “We’ll meet again” do Frank Sinatra.
Para o nosso último fim de semana aqui, eu e o João decidimos visitar Barcelona, para encerrar com chave ouro esta nossa aventura. E assim dito, assim feito! Chegando a Barcelona, eu o João fomos a fazer o Check in no nosso Hotel de uma estrela. Isso mesmo – nem duas, nem três, mas sim umaaa estrela! Ao chegar lá, deparámo-nos com o sítio e as pessoas mais sketchy de sempre! Estávamos em completo habitat de gnomos roubadores de muffins e proxenetas malcheirosos! O nosso quarto estava coberto de manchas, equipamento estragado e, possivelmente, histórias das quais fica melhor não serem contadas. O bom é que um gajo dorme de olhos fechados! Já de pé, e com o sol a raiar, eu e o João pusemo-nos a explorar a cidade. Fomos ao MACBA, grande museu e praça para todos os skaters do mundo. Foi espetacular ver este sítio ao vivo, depois de tanto ver vídeos de malta lá a andar de skate! Visitámos a Catedral de Barcelona, comemos boas tapas e dançámos pelas ruas ao som dos melhores músicos urbanos. Após tanta diversão, o João decidiu arrastar-me para uma casa assombrada. Foi das coisas mais intensas e assustadoras que vivi na vida. Aquilo era tudo tão real e perturbador! Eu estava mesmo à beira de um ataque de nervos. Parecia mesmo uma criancinha indefesa, maldito João por me ter arrastado para aquele sítio! Mas, pelo lado positivo, foi muito bom para acordar, acho que vou começar a substituir o café da matina por idas a casas assombradas. Para descontrair depois desta loucura, fomos ver a parada LGBT que estava a passar pelas ruas de Barcelona e acabámos o dia no topo da cidade com uma vista incrível! No dia seguinte o João começou-se a sentir muito doente, o que foi uma grande chatice. Graças a isto, tivemos de adiar o nosso plano de ir à Sagrada Família para irmos à sagrada farmácia. Mas que grande Carocho que ele me veio a sair. Mas pronto, eventualmente, fomos visitar a famosa Catedral e acabámos o dia por ir ver o bonito Parque Güell feito pelo grande artista Gaudi! Adorei imenso Barcelona, é mesmo a minha cidade. Ela é cheia de cultura, arte e skaters. Adorei imenso, voltarei de certeza um dia!
Por fim, em relação ao meu estágio, também posso dizer que encerrei com chave de ouro! Estive nestes últimos tempos a trabalhar numa publicidade para um curso online do meu chefe. Estive duas semanas para escrever uma ideia, desenvolver um guião, produzir, gravar, realizar e editar. Foi puxado, mas consegui. Foi uma experiência super interessante, realizar e escrever um vídeo em espanhol. Sou mesmo Poliglota! Nunca me senti tão feliz no trabalho, finalmente sou um adulto concretizado! O meu amigo Kennet foi um dos atores no vídeo! Partilho aqui que fiquei com coração derretido quando lhe implorei para participar no vídeo e ele respondeu-me com:
– Claro que participo, é para isso que os amigos servem!
Vou ter muitas saudades desta malta! O quanto já chorei não pode ser contido nem nos óculos de natação mais profundos. Agora apercebo-me que a parte mais difícil não é partir, mas sim regressar. Vou ter saudades da cidade que conheço quase tão bem como a minha querida Almada! Vou ter saudades de todos os amigos que fiz e que tanto me impactaram! Vou ter tantas, mas tantas saudades do João. Tê-lo como parceiro desta aventura foi a melhor coisa que me podia ter acontecido! Olho-me ao espelho e despeço-me de quem fui aqui, pois também não o voltarei a ver. É difícil voltar a casa quando encontraste casa noutro lugar! Tudo o que vivi aqui, em breve não passará de uma bonita memória. Memória que guardarei com todo o carinho no meu coração!
Mas pronto, termino assim o último episódio de “Se fosse bom com despedidas, ia masé trabalhar para uma agência funerária” Com o David Castilho.
Um extremo obrigado aos poucos amores que leem isto, espero que tenham gostado de todas as minhas histórias, dicas, aventuras e piadas! Um obrigado à minha escola por me dar a oportunidade de ter toda esta experiência e um obrigado à stora Susana por tolerar todos os meus atrasos! Acabo este meu último diário com a seguinte frase:
Se eu pudesse congelar o tempo, por cada momento que vivi, deixava-o derreter ao relento, porque lá bem dentro, sei que deixar arder e aflorar é melhor que um simples Fim!”
O Oscar olha então para o seu avô, tira os seus óculos de natação e diz:
-Obrigado, avô…
David olha para o seu neto e diz:
-Não tens de quê, Oscar… Não tens de quê!
Diário de Bordo #6
Diários de Bordo, diários de bordo, diários de bordo. Olho para bombordo; olho para estibordo e vejo todo o mar que já percorri… Recordo-me de tudo aquilo que já passei, e bordo na minha mantra tudo aquilo que ainda não vi. Deito-me então, perto do alçapão da entrada, quando subitamente, ao soar de um arroto e de uma tarde de verão bem passada, oiço a gritar:
-Daqui a pouco, tão pouco poucochino retornaremos a terra, amiguinho!
Disse João Casado full geeked in com um bocado de baba a escorrer-lhe pela boca…. Esgueira-me então um sorriso solene, devagar devagarinho, ao ver tal criatura sem creme protetor solar olhar para mim assim com tanto carinho. Disse-lhe então:
-Mas que bela aventura está a ser esta meu querido amigo e compincha João! Guardarei cada momento na memória e no bolso do meu calção! Cada história cada discussão!
Um abraço e um beijinho, do teu irmão!
Ass: David Castilho
David então sela a sua carta enquanto derrama uma lágrima à moda princesinha. Até que repentinamente, ouve-se um bater na porta! PUM PUM PUM! David abesbílico, levanta-se num catrapimbas e vai ver quem é. E para surpresa dele… lá estava… O seu fiel e grande amigo João Casado, de braços abertos com um subtítulo à sua frente que dizia: 0 a 10?
David radiante de alegria, abraça João e pergunta-lhe como foi o seu dia. João, com os olhos no céu e os pés na terra, olhou para o horizonte e com um pesar nos olhos disse:
-Fiz o que tinha a fazer…
E assim, David e João voltaram às suas aventuras de desenho animado e David conseguiu parar de escrever em terceira pessoa.
Estas últimas semanas foram cheias de emoção! Começamos a semana por fazer um grande e último dia especial para a nossa amiga portuguesa Lara, que ia partir… (de Zaragoza). Tivemos uma ótima tarde na piscina onde pudemos aproveitar o sol, dançar crol e ouvir os melhores reggaetons em Mi bemol. Encerramos a jantar na hamburgueria que fomos quando conhecemos a Lara. Despedimo-nos à grande e à Francesa, e desejemos-lhe as melhores das sortes para o seu regresso a Juan city, aldeia pacata de Portugal no qual nos falou tanto…
Pouco tempo depois, fomos passear à expo de Zaragoza com o nosso amigo Sérgio, porque o mesmo ia também partir. Todos partem raios partem! Já dizia o outro velho com as dicas repetidas! Durante o nosso passeio, enquanto menos estávamos à espera, o João é picado por uma vespa! Aquele rapazito é mesmo qualquer coisa! Com esta inconveniência, tivemos de mudar os planos para que o bebezinho pudesse cuidar do doidoi. Ainda bem que o Sérgio (estudante de medicina) estava por perto, porque se não, acho que também nos íamos ter de despedir do nosso amigo João! Depois, fomos ver um espetáculo de dança contemporânea e em seguida jantamos uma última vez todos juntos. Aqui juntou-se a Ara, outra amiga que fizemos nesta nossa viagem, para também se despedir de nós, porque mais uma vez, também ia partir. Tivemos uma última noite todos juntos onde nos rimos divertimos e partilhamos esta grande energia juvenil! Tudo em câmara lenta, para que pudéssemos aproveitar mais! Mas como tudo o que é bom acaba, tivemos de nos fazer à estrada, que já está verde e o autocarro quer passar! É muito triste despedirmos destas pessoas no qual criamos laços tão profundos e bonitos. Pessoas que nos acompanharam por esta fase e que nos fizeram sentir menos sozinhos. São coisas destas que fazem até o crocodilo chorar lágrimas do coração! Para afogar as mágoas, eu e o João fomos beber suco di maluco, e jogar Fortnit. Nunca pensei voltar a chorar enquanto jogava Fortnit! Mas é aqui que se distinguem os meninos dos homens. O David de 13 chorava porque morreu na tempestade! O David de 17 chora porque perdeu os amigos de verdade! Ws in the chat, Ws in the chat!
Já no primeiro fim de semana, eu e o meu amigo Kennet juntos da namorada dele Telly, fomos a andar de bicicleta para a floresta! Foi uma experiência mesmo altamente, tinha imensas saudades de andar de bike! As paisagens eram lindíssimas e a companhia era ainda melhor! A Telly só sabia dizer uma frase em português que gritávamos todos em coro enquanto biclavamos: “MUITO GOSTOOSOO!!!” Encerramos o dia num miradouro com a vista mais maravilhosa que eu alguma vez vi na vida! É nestes momentos em que um gajo respira fundo e se apercebe que no final, tudo vale a pena… Mas que grande pôr do sol, cheio de amor em mi bemol!
Agora, tenho que admitir um erro que cometi… Eu, deixei-me finalmente seduzir, contra todos os meus princípios e valores! Eu meus caros, comprei a cantina! Eu já não aguentava mesmo mais cozinhar! Era infelizmente o que tinha de ser feito! Eu sei que tinha prometido tornar-me o maior cozinheiro de sempre e voltar daqui a saber cozinhar os melhores pratos e refeições! Mas agora que sei o que implica cozinhar todos os dias, acho que para o futuro vou mazé ficar-me pela lasanha de micro-ondas! Agora que não tenho de me preocupar com comida, tenho mesmo muito mais tempo para mim! Acho que se desenvolvessem cantinas para adultos, ia ser um mercado cheio de aderência!
Infelizmente, as cantinas não funcionam ao fim de semana, e então, eu e o João no outro sábado, fomos comprar Pizzas e a levar para o parque a jantar! Foi uma bela noite, tive a ensinar o João a andar de bicicleta, foi muito engraçado! Ele ainda tem muito que aprender, mas pedal a pedal vai subindo a montanha! Nessa mesma noite, após o João gritar em alto e bom tom:
-ÓÓÓÓÓÓÓ PUTTOOO!!!
Fomos abordadas por duas miúdas portuguesas que por extrema coincidência estavam perto de nós a também jantar no parque! Mas que coincidência! Elas eram muito fixes, boa gente, foi um grande prazer conhecê-las! Adoro estes bonitos e inesperados momentos da vida! Eventualmente tivemos-mos que nos despedir porque o João tinha de ir dormir o seu sonho de beleza!
No dia seguinte, tivemos de acordar bem cedo, porque eu tinha marcado uma viagem para um parque florestal chamado “Monasterio de Piedra”! Chegado lá, tivemos a oportunidade de explorar as mais lindas cataratas, paisagens e a mais pura e bela natureza. Adorei! Foi incrível escapar dos tendenciosos locais capitalistas que o João está-me sempre a arrastar para visitar! No final, esbanjámos o nosso dinheiro em lembranças, e quase perdemos o autocarro porque o João não se conseguia decidir entre um boneco de um esquilo feliz, ou um boneco de um esquilo contente!
Por fim, no estágio, estou a aprender muito! Estou agora a fazer uma publicidade para um serviço de Pod-Casts que o meu chefe está a produzir! Até vos contava mais, mas também aprendi que às vezes mais vale estar de boca fechada! A sinceridade fica para as crianças e para os contos de fadas! Só vos digo que, às vezes, penso que não passo de um problema para este mundo… Mas se calhar lá no fundo; sou apenas uma pergunta difícil num saco de respostas já decoradas!
E com esta acabo mais um episódio de “Se não cabes neste mundo, ou te encolhes ou viras astronauta!” com David Castilho. Muito obrigado aos meus leitores quinzenais e acabo esta minha contribuição com a seguinte frase:
Por muito próximo que esteja o barco de atracar, a viagem continua até haver terra à vista ou até o barco afundar!
Diário de Bordo #5
Hoje acordei… como faço todos os dias! Após passar uma hora inteira a ver no meu telemóvel vídeos de miúdos com um elevado nível de obesidade a dançar ao som de música eletrónica, decidi levantar-me. Fui então à janela, abri as cortinas e… estava em Almada! Achei aquilo muito esquisito! Subitamente, ouvi um grito, já há muito não antes ouvido a chamar por mim:
“DAVIIIIID, ANDAA COMEEEER!!!”
Assustado, grito que já vou, enquanto dou pausa no jogo online e corro para a cozinha! Chegando lá, vejo a minha família, e uma bela refeição caseira em cima da mesa, condimentada, cozinhada e preparada só para mim… Sento-me, fecho os olhos e dou a primeira dentada. Dentada tão magnífica; que me fez vir tudo à memória, estilo Anton Ego a provar pela primeira vez o ratatouille! Recordo-me de tempos antigos e mais simples! Tempos onde o tempo era tanto que até dava para dar um bocado ao ocupado, e ainda sobrava o suficiente para o desperdiçar… Quando finalmente abro os olhos, já não estou em Almada… Estou em Zaragoza, são quatro da tarde e estou sozinho no meu quarto. Fico então ali deitado à espera… À espera de um possível grito que me chame por comida feita ou talvez por roupa lavada… Mas nada! O único grito que oiço é o da miúda do andar de cima, que grita incansavelmente para o seu namorado ir mais rápido! Não sei o que faziam, mas respeito-a por querer ajudar o namorado na sua busca pela procura de maior eficiência e produtividade! Mas pronto, esta vida de adulto já está a começar a pesar, ainda mais do que pesa a um miúdo obeso dançar a música eletrónica. É que eu já não aguento mais cozinhar! É algo que tira imenso tempo do meu dia, exige esforço, preparamento e nem sempre corre bem! Não sei como é que as avós o conseguem fazer tão bem… É que eu estou já num ponto onde desde que seja comestível, serve… Sempre me disseram que a vingança era um prato que se servia frio! Mas se me aparecesse agora aqui no quarto, o ceifador e oferece-se-me um belo prato frio e mal passado de vingança, eu aceitava e comia-o a todo, só para que não tivesse de cozinhar! Mas só se ele aceitasse lavar a loiça também!
Estas últimas duas semanas foram bastantes diferentes do habitual… No início da primeira semana, eu e o João fomos visitar o oceanário aqui da cidade, que nos dizia a nossa amiga internet, ser o maior da Europa. Tenho a dizer que fiquei um bocado desiludido! Ele não era assim tão grande, não era nada atmosférico, era caro e o mascote estava a milhas de ser tão fixe como o Vasco! Nesse mesmo dia, comemos tapas, gelados, jogamos snooker e tivemos uma verdadeira tarde de bros. No final da noite, o João vira-se para mim e diz-me que iria ter de partir temporariamente. Quando perguntei o porquê ele apenas disse:
“ A cidade precisa de mim” E então, desembrulhou-se na sua capa fatela e voou dali para fora! Desde esse dia nunca mais o vi, mas tenho a certeza que a cidade de Zaragoza está mais segura com ele para a proteger dos mal feitores da noite!
Com o desaparecimento do João, tinha-me pela primeira vez encontrado sozinho nesta nova cidade. Primeiro partiram o grupo dos Erasmus, a Marta (com sotaque espanhol), a Elena, depois a minha mãe e por fim o João… Todos partem raios partam! Com isto, vi-me obrigado a fazer-me à vida! Se não queria ficar trancado em casa, estilo monge em silêncio durante duas semanas, tinha de me pôr na alheta, sair de casa e ir falar com pessoas! Por isso, comecei a ir diariamente depois do trabalho skatar aos diferentes skate parks aqui da cidade, com o objetivo de abanar o esqueleto e quiçá, fazer um amiguinho! E pronto, assim dito, assim feito! Num dia que estava no skatepark, conheci um rapaz chamado Kenet! Ele é das Honduras, mas vive em Zaragoza. Ele é um personagem mesmo muito interessante! Nos últimos dias tenho estado muito com ele a andar de skate pela cidade e a explorar as redondezas. Ele é o típico puto selvagem, que anda descalço, trepa árvores e cospe para o chão. Apesar de ser um pouco nojento, respeito o estilo selvagem e despreocupado dele! Já fizemos grandes secções musicais, filmamos muitos vídeos e no outro dia, ele levou-me a trepar às árvores! Full Tarzan style! Bom rapaz ele! Estar por minha conta foi mesmo muito importante para pôr-me fora da minha zona de conforto e deixar as minhas inseguranças de lado! Não posso depender para sempre da personalidade extravagante do João para me conectar com as pessoas! Nada como estar desconfortável para crescer! Mas no final de tudo, nada muda se nada muda…
Apesar de me estar a sair bem sozinho, não posso fugir ao facto que tenho um pouco de saudades… Saudades de casa, da família, dos amigos, da minha cidade… de caracóis também já agora, é que vinham mesmo a calhar! Apesar que estar a viver esta experiencia, tem-me inspirado bastante a querer ir viajar mais e explorar o mundo; é inegável o facto que há uma parte de mim que fica sempre no lugar onde nasci! E mesmo eu querendo viajar, viver em autocaravanas e embarcar em aventurar hippies pelo mundo, acho que a coisa mais importante é nunca nos esquecermos de onde viemos… Também tenho saudades do grupo dos Erasmus que conhecemos nas primeiras semanas! Tinha criado uma relação mesmo profunda com alguns deles, e é triste pensar que nunca mais os vou ver… Relações quebradas como a gema de um ovo mal aberto! Tanto potencial perdido na panela. O que teria sido… É triste quando temos alguém na cabeça mais tempo do que a tivemos ao nosso lado… Mas pronto, que nem dizia aquele outro romântico do século XXI, que fazia uma serenata à sua amada via indiretas do Instagram: A saudade é o azar de quem já teve muita sorte! É pena que nem um like no stories recebeu…
Por fim relativamente ao estágio, apenas tenho a dizer que nunca estive tão feliz! Adoro o meu trabalho corporativo de escritório e estou entusiasmadíssimo para gastar o resto da minha vida a trabalhar das 9 às 5, levar na cabeça do meu chefe, fazer horas extra, dia após dia após dia, até que a minha alma tenha sido por completa arrancada e que a minha conta bancária esteja ligeiramente a cima da média. Tenho a certeza que quando tiver no leito da minha morte vou olhar para trás, e pensar… Valeu a pena!!
Mas pronto, com isto acabo mais um episódio de“ Pra que vale vestir as calças do pai, se no final das contas o teu chefe só usa skinny jeans” com o David Castilho. Obrigado à minha mãe por ser a única pessoa que lê os meus diários de bordo e acabo esta minha contribuição com a seguinte frase:
É por estas e por outras que um gajo anda por aqui de cor e salteado!
Diário de Bordo #4
Já lá vamos a metade, desta que está a ser uma das melhores aventuras que alguma vez vivi na minha vida. E, infelizmente para mim, esta metade não são como aquelas metades de pizzas comidas entre ti e tua irmã nas noites de sexta-feira, onde o irmão mais velho, matreiro e mal-intencionado, aproveitava-se da inocência da sua irmã mais nova, que assistia desenhos animados, tão fixada que até escorria baba da boca… A distração ideal para que ele pudesse cometer o crime mais maldoso de cortar deliberadamente mal a pizza, para que assim ficasse com a metade maior. Às vezes os maiores traidores, não são os que têm as mãos cobertas de sangue, mas aqueles que as têm cobertas de extra queijo. Mas pronto, infelizmente, não se pode roubar o tempo desaproveitado como se pode roubar crostas desapreciadas.
Sento-me então triste, ao lado de um velho e reformado mafioso, que enquanto espumava o resto do seu bigode cobiço com um amaciador ultra suave sabor a nêsperas malmequer, parava ao fim da sua última e grande penteada para me dizer:
-A vida são dois dias… Mas se roubares mais uns quantos até consegues chegar a cota!
David, stressado diz-lhe:
-Se soubesse que a vida iria ser este constante assalto à mão armada, tinha-me ficado ou pelo embrião ou pela esplanada!
David então acorda de mais de uma das suas acidentais sestas pós trabalho e apercebe-se que já está atrasado para entregar o diário de bordo. Então, enquanto ainda boceja de canto começa:
Eu e o João temos mesmo embarcado em aventuras inesquecíveis!
No fim de semana passado, rendemo-nos mais uma vez às tentações capitalistas do João e retornámos ao seu hábitat natural… o centro comercial. O João arrastou-me de loja em loja à procura dos melhores saldos, mas no final das contas, quem acabou por comprar uma t-shirt fui eu… Malditas promoções!
Depois, fomos jogar bowling e mini-golf, e dei uma grande cabazada ao João! Quando saíamos deparámo-nos com um salão de jogos, onde cada máquina dava um determinado número de tickets, que mais tarde poderiam vir a ser trocados por prémios. E foi aqui meus amigos, foi aqui que libertei um lado que já há muito havia sido esquecido… Eu libertei o Gambler que há em mim!
Arrastei o João para jogar o maior número possível de jogos! Tinha enlouquecido por completo. Nós jogámos jogo após jogo, em busca de mais e mais tickets. A adrenalina transbordava-me pelo sangue de tal forma que quem me visse de fora, não conseguia perceber se estava a apostar 1€ na roleta do sponge bob, ou se estava a apostar 10000€ no poker no casino do Estoril. Ao final do dia de muitas jogatinas, e após aprendermos o maior truque secreto para burlar o sistema dos salões de jogos, tínhamo-nos tornado os maiores gangsters da zona! Demos cabo do nosso financiamento bancário, mas valeu a pena!
Dirigimo-nos então à banca dos prémios para regalarmos o que tanto tínhamos nós por direito. Saímos de lá com um avião lindíssimo, uma bola e dois carros (de brincar). Encerrámos o dia com hamburgers para festejar! Um verdadeiro dia à americana, sim senhor, desta vez fui convertido…
Nestes últimos tempos, também estivemos a experienciar muitas atividades juvenis conjuntas, como por exemplo a ida a discotecas e sessões de filmes de terror. Estas novas vivências têm-me inspirado bastante e, graças a elas, começámos a escrever uma música com base nestas aventuras.
Não vos posso ainda dizer muito, mas preparem-se que vem daí um álbum a caminho.
Eu e o João temo-nos dado muito bem! Porém, já tivemos as nossas discussões. No outro dia, o João tentou, à bruta, meter-me fora do quarto para que ele pudesse estudar. Após a sua indelicadeza para comigo, decidi que não iria falar mais com ele. E foi aqui que comecei um experimento social, onde eu queria ver como reagiria o João com a ausência da única pessoa que fala a sua língua neste país estrangeiro. Por muito que dolorosa, creio que foi extremamente interessante esta experiência. Porque o João, passou por todas as exatas fases que passa alguém quando está de luto. Primeiro, estava em negação, depois ficou com raiva, depois entrou em depressão e depois aceitou! Tudo isto numa hora! Adoro testar o limite dos Humanos! MUAHAHAHAH!!
Depois, nesse mesmo dia, acompanhei o João ao cabeleireiro. Lá fiquei amigo dos barbeiros, e filmámos muitos conteúdos juntos. Foi muito divertido. Por fim encerrámos a tarde com batidos!
Para encerrar, a minha mãe veio visitar-me neste último fim semana!
Foi mesmo especial, tinha muitas saudades dela! Dei-lhe a conhecer os monumentos mais icónicos da cidade, visitámos parques e parquinhos, museus, dormimos sestas nos lugares mais incríveis da cidade, jogámos snooker, fomos a uma festa de vinhos, conhecemos e ficámos amigos de imensas pessoas locais, visitámos ilegalmente a assembleia e ficámos amigos do vencedor do prémio Nobel da paz da medicina, e por fim, comemos as melhores tapas e bebemos as melhores bebidas da cidade.
No último dia em que ela esteve cá, fomos todos ver a final de Portugal contra Espanha a um restaurante aqui da cidade. Foi um jogo muito renhido e foi muito giro ver a rivalidade entre os dois países a acontecer ao vivo. Apesar de termos ganho e festejado imenso, tenho de dar o meu grande respeito aos espanhóis do restaurante que demonstraram imensa classe perante a derrota!
Por fim, em relação ao estágio, tenho editado e feito trabalho de escritório. Qualquer problema que tivera ou sentira, foi ofuscado pelo facto que eles me deram uma tshirt! WOOOOW, que espetáculoooo!
Brincadeiras à parte, este estágio está a fazer-me perceber que eu não funciono mesmo nada para este mundo corporativo… Acho que vou só comprar uma carrinha e explorar o mundo! Hippie style! Mas isto fica para um próximo episódio…
E é isso, assim termino mais um episódio de “Pra que vale perder tempo a afinar a minha viola, se as únicas pessoas aqui no bar são o meu professor de música e meu amigo bêbado, o mafioso reformado…” com David Castilho.
Muchas Gracias aos meus três leitores fiéis e encerro dramaticamente esta minha contribuição com a seguinte frase:
Trabalho que nem um homem de família para sustentar a criança que tenho dentro de mim!
Diário de Bordo #3
Já lá foi 1 mês… 1 mês inteirinho de dois mafarricos a aprender a ser cidadãos exemplares… O tempo passa mesmo a correr!
Quando o João me disse que já lá ia um mês, fiquei tão abesbílico como um gambling addict fica ao se aperceber que perdeu tudo o que tinha no casino contra um cavalo antropomórfico que lhe olhava arrogantemente despreocupado nos olhos, inconsciente do facto que tinha um bocado de feno preso nos dentes, que lhe estava a arruinar por completo a pinta! Se pudesse apostar o meu tempo no casino, apostava-o a todo, e deixava apenas o suficiente para que se fosse tudo pelos ares, tinha tempo suficiente para me despedir, ver um último episódio e deitar-me na relva enquanto olhava para o céu e pensava:“Ai que menino bom que sou, ai que menino bom que fui, ai que menino bom que…” Comigo é assim! Tudo ou nada 🤟
Mas pronto, seguindo em frente que atrás vem gente, já posso dizer finalmente que a única coisa que me separa de um adulto é a minha ausência de um bigode farfalhudo. Já cozinho pratos aguçados, bebo os sucos proibidos e até já cozinho sobremesas! Hoje, eu e o João fizemos uma noite de pizas, baba de camelo e cinema! Muito fixe, eu sei que devem estar a roer-se de inveja! Mas pronto, agora que faço parte da gangue dos crescidos, apercebo-me finalmente o porquê da ausência de felicidade dos tantos que se cruzam comigo no autocarro e que me olham com o olhar de quem não é livre para escolher o que vai comer ao jantar! Agora apercebo-me que ser crescido é brutal, é mesmo muito fixe… Até que acordas e tens que fazer tudo outra vez! A parte boa e má de ser grande, é que ninguém espera por ti… Ao final do dia, não há nenhum jantar em casa à tua espera; não há ninguém que espere por ti do outro lado da passadeira; e se demoras muito a apertar os atacadores quando já estás atrasado (para o trabalho)., o teu chefe dá-te na cabeça sem piedade! A este ponto vou masé voltar ao Velcro.
Mas pronto, como já dizia o velho rapaz: “Crescer é perder custódia com a responsabilidade” Respeito pelos adultos que não perdem o brilhozinho nos olhos… A dica é viver a vida, não como se amanhã fosse o teu último dia, mas sim, como se fosse o teu primeiro… E é com este mote que tenho aproveitado estes últimos dias!
Junto do meu amigo João já exploramos imensos sítios! Já fomos ao parque da expo, onde vimos lindíssimos cantos e cantinhos! Fomos recentemente a um festival no parque grande da cidade, onde passeámos, comemos lambusadamente sandes de almôndegas e dançámos e saltámos ao som dos melhores sintetizadores!
Na semana passada, fomos com a nossa amiga Lara ver a Eurovisão ao cinema. O cinema encontrava-se no maior centro comercial de Zaragoza, onde o João estava entusiasmadíssimo por ir! Mas que grande capitalista me veio a sair! Apesar de não apreciar muito estes ambientes propícios às ações e transações capitalistas, adorei imenso ver um evento ao vivo no cinema, e poder apoiar Portugal e a música que gosto tanto!
Para além disto, também já fiz amizade com mais espanhóis. Conheci um rapaz chamado Sérgio que é mesmo um bom rapaz! No outro dia, ele levou-nos, juntos dos amigos dele, a explorar o mundo da noite de Zaragoza! Ele levou-nos às ruas mais celebres da festa, como o El tubo donde todo es posible! Rapaziada muito porreira! Também já fiz amizade com um um grupo de raparigas! Até vos podia contar, mas vocês não iam entender, tinham de estar lá pra ver…
Agora que o João está a dar uma de marrão, a estudar para os exames, eu vejo-me cada vez mais obrigado a arranjar atividades lúdicas a solo. E por isso, comecei recentemente a frequentar o Skate-park aqui da zona! Na primeira vez que fui lá, conheci um rapaz de 13 anos chamado Noel. Ficamos a tarde toda a skatar e a conviver! E digo-vos amigos, ele é um dos rapaz mais inteligentes que já conheci. Ele tendo apenas 13 anos, esteve-me a explicar tudo o que se está a passar na política de Espanha. Todos os problemas económicos, sociais e governamentais! Tudo isto, enquanto dava a sua opinião fundamentada e bem estruturada sobre estes mesmos tópicos! Eu fiquei mesmo parvo… Eu com 13 anos só discutia com os meus amigos qual de nós era melhor no Fortnit! É sempre bom falar assim com putos inteligentes!
Por fim, no estágio tenho editado reels, pod-casts, reuniões, e cenas corporativas do género. Durante um tempo, admito que estive a bater um bocado mal, pela minha falta de interesse aos tópicos que estou a trabalhar, e em relação à minha incapacidade de inovar e dar o meu próprio toque. Mas foi aí que o João me disse uma frase que me ficou que foi: “Tu sempre fizeste as coisas à tua maneira, agora tens de aprender a fazer à maneira de outro…” E sinto que isso mudou bastante a minha perspetiva porque ele tem razão, é importante saber ser flexível e fazer todo o tipo de coisas, chatas ou não… Obrigado João 😉
Para além disto, temos feito uma atividade muito gira, onde todo os dias eu apresento-lhes uma palavra portuguesa e eles apresentam-me uma palavra espanhola! Está a ser muito divertido! Já aprendi imensas palavras novas, sendo a minha nova favorita “Gamberro”. Já lhes mostrei diversas palavras como “Saudade”, “Desenrascar” e “Mafarrico”.
Estou mesmo a adorar esta aventura, e estou a documentar tudo ao máximo na minha câmara e na minha mais recente comprada descartável !
Mas pronto, assim acaba mais um episódio de “Se queres ser criança para sempre, corta masé essas pernas e faz depilação a laser, porque com esse aspeto não vais lá!” com o David Castilho.
Espero que tenham gostado, e encerro dramaticamente a minha contribuição com a seguinte onomatopeia: BOOMMM CHAKALAKAAA!
Diário de Bordo #2
Já lá vão quase três semanas… Está tudo a passar tão rápido… Ainda ontem tínhamos acabamos de chegar, e agora até já conseguimos ver o primeiro mês ali ao virar da esquina pronto para nos roubar a carteira… Mas, já dizia o velho ali do bar ao lado, que já ia no seu quinto conhaque e que nos falava ressabiado da sua ex-mulher: “Tudo o que é bom passa depressa… tudo menos a Lebre, que ficou a ver o tempo a passar…”
Cantarolias à parte, tenho de começar por dizer que esta vida de grande está, cada vez mais, a fazer menos peso às costas… Estou-me a tornar um cozinheiro bastante exemplar, tendo já adicionado ao meu reportório pratos como frango guisado, espetadas e croquetas (prato nacional aqui de espanha)! Já sei onde encontrar os melhores itens e recipientes que preciso e também aos melhores preços! E ainda por cima estou a comer salada e fruta diariamente! AHAM AHAM há pois é toma lá paiiii, que achavas que ia apenas tar-me a sustentar à base de lasanhas e pizzas de microndas! (Um forte respeito à comida de micro-ondas que esteve sempre lá ao meu lado nos dias em que mais precisei…)
Depois, passo por prosseguir a continuar a contar a história, previamente iniciada no diário de bordo anterior.
Após a festa com os Mafia, eu e o João começámos a nos encontrar diariamente com o grupo à noite no salão de jogos da nossa residência. Durante este período eu fiquei a conhecer melhor todo o grupo e fiquei em particular bastante amigo de duas raparigas, a Marta que vinha de Madrid e a Elena, que vinha da Roménia. Elas eventualmente convidaram-me para fazer parte dos workshops do projeto de Erasmus no qual estavam a participar! E foi assim que David Castilho, que antes era um mero intruso, juntar-se-ia de vez aos Mafia! Durante dois dias, após sair do meu estágio, ia direto para o sítio onde eles faziam o seu projeto e juntava-me às atividades deles! Fizemos um mini teatro, jogos interativos e várias reuniões de equipa. Foi extremamente divertido! Depois dos workshops, iamos jantar todos juntos e passávamos o resto da noite na ramboia! Numa das noites, a Marta levou-nos a um bar, onde nos deu a provar uma bebida brutal chamada Tinto de Verano. Tanto jogámos, cantámos e dançámos… A energia era tão mágica e verdadeira, que nem o maior poeta com as palavras mais caras conseguiria passar por escrito a riqueza que foram aqueles momentos. Durante esta semana, conectei-me mesmo intensamente com estas pessoas! Em especial com a Marta, no qual tive um bonito e curto romance… Mas enfim, num piscar de olhos, tão rápido como o instante que leva a nos apercebermos que um pássaro fez cocó na nossa camisola, eles tinham de partir… Passei uma última manhã com a Marta e com os Mafia, até que tinha chegado a hora de dizer adeus… Eu e a Marta trocámos as cartas que tínhamos escrito um para o outro e, quando dei por mim, eles tinham partido… Nesse mesmo dia chorei… chorei tanto como nunca havia antes chorado… Essa semana que estive com eles foi de tal forma intensa que, apesar de apenas os conhecer há tão pouco tempo, sentia que os tivera conhecido toda a minha vida. Vê-los partir assim, foi tão duro como uma mãe que vê o seu filho recém nascido a ser-lhe arrancado das suas mãos. Mas pronto, em breve visitaremos Madrid, para me encontrar uma última vez com a Marta…
Com a partida deles, voltei a estar a solo com o João. Tenho a dizer que ter embarcado nesta viagem com ele foi a melhor coisa que me podia ter acontecido! Apesar dos nossos pontuais desentendimentos sobre as nossas diferentes formas de estar na vida, tenho de admitir que adoro extremamente o João e todos os momentos que temos passado!
Já explorámos muito mais a cidade e visitámos o grande parque da região com a nossa amiga portuguesa Lara! Também fui ver o espetáculo da companhia de teatro dele, que apesar de ter sofrido um grande imprevisto por causa da chuva, foi muito divertido de se ver o circo ao ar livre! E também LAVÁMOS A ROUPA WOWW, que radicaaalll!! Obrigado por tudo, e João… nunca serás melhor que eu no snooker HAHAHHA! Mas pronto, após o João demonstrar uma constante dificuldade em se adaptar a esta nova vida de adulto, a mãe dele não viu outra hipótese se não ser vir de Portugal até a Zaragoza ajudá-lo! E assim passei este último fim semana com esta enorme dupla, a explorar museus, a ver concertos e em busca das melhores tapas!
Por fim, em relação ao meu estágio, tenho a dizer que estou cada vez a trabalhar mais e a falar melhor espanhol! Apesar de ficar ligeiramente desapontado ao aperceber-me que o trabalho que faço não é assim tão distante de um trabalho de escritório… Aos poucos e poucos fui aprendendo a gostar! Estou maioritariamente apenas a editar, seja clips para as redes sociais, reuniões de empresas, ou mais coisas do género…
E pronto, com isto acabo mais um episódio de “Como ser grande, pra quem ainda não chega à prateleira de cima” com David Castilho! Um enorme obrigado a todos e acabo o meu depoimento com a seguinte frase motivacional: “Nem tudo o que é Easy peasy tem de ser lemon Squezy!”
Diário de Bordo #1
Estes últimos dias têm sido uma loucura!
Apesar de termos acabado de chegar, já fiz tanta mas tanta coisa que até parece que já estamos cá há mais de um mês!
Cheguei a Zaragoza há 4 dias, e finalmente estou a viver a vida de grande!
Nos primeiros dias Eu e o João já fomos explorar a cidade e ver o que ela escondia!
Conhecemos as suas pessoas, os seus costumes e principalmente, provamos croquetas! Eram tãaaooo boooaasss!
Eventualmente, fomos fazer as compras do mês! É nestes momentos que percebemos que a vida não tá fácil!
Fizemos pela primeira vez o jantar nesse mesmo dia. Tivemos quase uma hora para pôr o fogão a funcionar! Maldita tecnologia moderna! Mas pronto, finalmente pude pôr os meus dotes culinários em prática e fiz um grande pitéu para o João! É bom que ele aprenda a cozinhar depressa!
Também nestes dias fui apresentado à minha empresa e ao meu coordenador de estágio. Estou a ter um bocado de dificuldade a aprender espanhol, e a comunicar com as pessoas. Ninguém aqui sabe falar inglês, então não há mesmo outra opção senão aprender! Mas aos poucos, e poucos, o portunhol vai safando!
Ainda só tive um dia de estágio, então ainda não fiz grande coisa. Estive apenas a responder a um grande grande formulário que o meu coordenador me deu para me conhecer melhor e testar os meus conhecimentos.
Também conhecemos uma Portuguesa de 17 anos chamada Lara que também está aqui a estagiar. Ela mostrou-nos a cidade e apresentou-nos também ao amigo português dela, o Rui. Foi muito engraçado, o gangue dos tugas! Jogámos muito no salão de jogos, e fizemos uma noite de pizza!
Nessa mesma noite, após nos despedirmos da Lara, conhecemos um grupo de adultos que também estão numa espécie de programa Erasmus, apenas diferenciando que a idade deles variam entre os 18 e os 50 anos. Jogámos todos Uno, e estava a sentir-me como se estivesse a jogar às cartas com a Mafia. Todos nós eramos tão diferentes, parecia que estávamos num autêntico jogo de Cluedo ou num programa estranho de detetives dos anos 90.
Já ontem, eu e o João ficámos a fazer snooze até às tantas, para recuperar destes últimos dias…
Pela tarde, saímos pela cidade, para irmos gravar o nosso vídeo do dia da Europa! Gravámos, conhecemos muitos estrangeiros, e jogámos com eles. Quando voltámos, encontrámo-nos de novo com a malta da Mafia que nos convidaram para uma festa! Fomos e ficámos a jogar jogos de cartas, sendo um, o jogo da Mafia, e outro um jogo autoconhecimento que nos ajudou a conhecer-nos bastante e a criarmos relações.
Conheci pessoas incríveis, e sinto-me cada vez menos sozinho!
Hoje, foi um dia mais tranquilo. Estive a editar o vídeo da Europa e a fazer o relatório de estágio.
Estes últimos dias têm sido incríveis, e mal posso esperar por mais 😉